segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Para Ana Cristina César ou Rascunho pra Teatro XXVI



ELE
– Lê mais uma vez pra mim?
O LEITOR – Leio... Qual parte?
ELE – Toda...
O LEITOR – Leio...
ELE – Mas antes me beija?
O LEITOR – Qual parte?
ELE – Todo...
O LEITOR – Beijo...
(Silêncio. O leitor lê “A teus pés” de Ana Cristina César. Termina. Silêncio.)
ELE – Adoro sua voz lendo pra mim...
O LEITOR – E eu adoro ler pra você...
ELE – Posso fumar enquanto você lê para mim?
O LEITOR – Tabaco?
ELE – Tabaco.
O LEITOR – Pode...
(Silêncio.)
O LEITOR – “A teus pés”...
ELE – Você não existe...
O LEITOR – Como?!
ELE – Você não existe... Existe?
O LEITOR – Existo... Em algum lugar...
(Silêncio.)
ELE – Por um instante achei que você estivesse aqui comigo e eu pudesse deitar em minha cama e te beijar e fumar enquanto você lê para mim...
(Silêncio.)
ELE – Sua voz estava tão próxima que me perdi...
O LEITOR – Em breve...
ELE – Vou esperar...
(Silêncio.)
ELE – Você sabe que eu sou aquele que espera, não é?!
O LEITOR – Espere... Em breve estarei a teus pés com “a teus pés”...

(abril/2009)


sábado, 10 de novembro de 2012

Telefonema nº 11 ou Rascunho pra Teatro 5x5

Cc – Oi
Ma – Quem é?
Cc – Como assim?
Ma – Quem é?
Cc – Sou eu...
Ma – Eu quem?
Cc – Eu, ué...
(Silêncio)
Ma – Ah, oi...
Cc – Como vai?
Ma – Bem...
(Silêncio)
Cc – Deu saudades e eu liguei...
Ma – Ah...
(Silêncio)
Cc – Mas me diz como estão as coisas por aí?
Ma – Já disse que estão bem...
Cc – Ah...
(Silêncio)
Cc – E aí?
Ma – E aí, o que?
Cc – Alguma novidade?
Ma – Acho que não...
(Silêncio)
Cc – Pois é, te liguei só pra jogar conversa fora... Tchau!
(Silêncio)
Ma – Alô?!
(Silêncio. Ma desliga.)

(abril/2009)




quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Sob o efeito de labirintite ou Rascunho pra Teatro 24

B - Ligo ou não ligo?
A - Não liga...
B - Mas se eu não ligar, ele vai achar que eu me esqueci...
A - Então liga...
B - Mas se eu ligar, ele vai achar que eu só penso nisso...
A - E você se esqueceu ou só pensa nisso?
B - Só penso nisso...
A - Então liga...
(silêncio)
B - Alô?
(silêncio)
B - Não está... saiu...
(silêncio)
B - Espero ele voltar?
A - Não espera...
B - Mas se eu não esperar, ele vai achar que eu toquei minha vida...
A - Então espera...
B - Mas se eu esperar, ele vai achar que eu não tenho outra coisa pra fazer...
A - E você tocou sua vida ou não tem outra coisa pra fazer?
(silêncio)
B - Nem consigo tocar minha vida... nem tenho outra coisa pra fazer... estou parado no meio do caminho... anestesiado...
A – Esta aí é a sua resposta... Tédio!
(silêncio)

(abril de 2009)


domingo, 4 de março de 2012

A cidade ou rascunho pra teatro VVVVIII







A - Trouxe minha surpresa?
L - Mandaram te devolver isso...
A - E nada mais?
L - Nada...
A - Será que perdi?
L - Perdeu, eu acho...
A - Ele não te disse nada mais?
L - Nada...
A - Parecia que estava sofrendo?
L - Não...
A - Mas será que ele está sofrendo?
L - Não...
(silêncio)
A - O que será que ele está fazendo agora?
L - Trabalhando...
A - Será que eu devo ligar?
L - Não...
A - Por quê?
L - Porque ele não está te ligando...
A - Mas e se eu perder?
L - Eu acho que você já perdeu...
(silêncio)
A - Certo. Vou sentar aqui e esperar então...
L - Esperar o que?
A - O tempo passar...
(silêncio)

(março de 2009)


domingo, 26 de fevereiro de 2012

Para Clara ou rascunho pra teatro 22






D - O que você tem?
(silêncio)
C - Esquece!
D - Esqueço...
(silêncio)
D - Mas se precisar de mim...
C - Preciso dele...
D - Mas ele já foi...
C - Chorei quando ele foi...
D - E ele não volta?
C - Pelo que li nos jornais hoje, acho difícil...
(silêncio)
D - Sei que não sou como ele, mas estou aqui...
(silêncio)
D - Sei que o que você sente por ele é diferente do que sente por mim, mas eu estou aqui...
(silêncio)
D - Estou aqui!
C - Ok! Obrigada!
(silêncio)
D - Quer que eu te leve em casa?
C - Não... Vou esperar ele voltar...
D - Posso esperar com você?
C - Não precisa... Vá pra casa...
(silêncio)
D – Vou...
(silêncio)
D - E não se assuste se ler amanhã nos jornais que eu também não volto...

(março/2009)



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Para um primo distante ou Rascunho pra Teatro XXI






D - Obrigado pela ajuda...
B - Você já vai?
D - Já... Preciso pegar meu ônibus...
B - Mas você vai me deixar aqui sozinho?
D - Se eu perder esse ônibus, só às 6 da manhã de novo...
(silêncio)
B - Então tchau...
D - Eu fico...
B - Vai...
D - Eu fico... Depois de tudo que fizemos um pelo outro...
B - Obrigado!
(silêncio)
D - Desculpe a cara-de-pau, mas você não quer ir comigo?
B - Ir contigo?
D - É... Seu ônibus não passará agora. Pegamos o meu...
B - Não tem problema?
D - De jeito nenhum...
(silêncio)
B - E se eu decidir ficar?
D - Eu fico aqui com você...
B - Eu quiser dizer se eu decidir ficar lá contigo e não quiser mais ir embora?
(silêncio)
D - Será muito bem-vindo!
B - Pegamos seu ônibus...
D - E amanhã te preparo o café...
(silêncio)
B - Você é lindo...
D - Até que enfim!
(silêncio)

(março/2009)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Para H.C.M. ou Rascunho para Teatro XX






C - Me dá uma carona no seu guarda-chuva?
B - Claro...
C - Qual é o seu nome?
(silêncio)
B - Sabe quando você tem a sensação de que sua vida está prestes a mudar?
C - Não...
B - Não?
C - Não...
B - Isso acontece comigo o tempo todo... Se encontro alguém e esse alguém me sorri...
(silêncio)
B - Chega mais perto pra não se molhar...
C - Posso te perguntar uma coisa?
B - Pode...
C - Qual é o seu nome?
B - Por que pergunta?
C - Sou curiosa...
B - Não vou te responder...
C - Por que não?
B - Não posso ser tão fácil... Tão entregue...
C – Faz muito bem se preservando...
B - Quando era mais novo, acreditava que encontraria a mulher da minha vida no meio da rua...
C - Estamos na calçada...
B - E seria amor à primeira vista...
C - E foi?
B - Foi... Sempre é...
C - Desculpe, não gosto de morenos...
B - Você é linda...
C - Não vai me dizer seu nome?
B - Você não gosta de morenos...
C - Mas gosto de nomes...
B - Henrique... Sem “H”...
C - Gosto de Henriques, sem “H”...
B - E você?
C - Que?
B - Seu nome?
C - Sou Bárbara...
B - A chuva já passou por aqui, mas continuamos debaixo do meu guarda-chuva...
C - Tem razão...
(silêncio)
C - Obrigada pela carona...
B - Imagina!
(silêncio)
C - Você não se chama Enrique, não é?
(silêncio)
B - Não...
C - Sabia...
(silêncio)
C - Mas isso é bom! Henriques sem “H” são presunçosos...
(silêncio)
B - E o que você acha dos Alexandres?
C - Hum... Simpáticos...
B - Ah...
C - Bom, mais uma vez, obrigada! Tchau!
B - Tchau...


(março de 2009)

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Pressentimento ou Rascunho para Teatro XIX






D - Você vai demorar muito?
B - Tô chegando...
D - Não, porque se for demorar, me avisa que eu vou dormir...
B – Tô chegando...
(silêncio)
B - Tô chegando, calma...
D - Sabia que estava esperando outra pessoa?
B - Tô chegando... Tô chegando...
D - Eu queria que uma outra pessoa viesse, não você...
B - Tô quase... Me espera...
D - Bem que podia ser outra pessoa...
(silêncio)
B - Mas então... Fala.
D - Quê que eu tava falando?
B - Que podia ser outra pessoa...
D - Pois é... Não que você seja uma companhia desagradável, mas sabe como é?!
B - Peraí que eu tô quase...
D - Eu queria que ele voltasse pra mim...
B - Tô chegando... me espera...
D - Eu o faria muito feliz...
(silêncio)
D - Tá aí ainda?
(silêncio)
B – Pronto! Cheguei.
(silêncio)
D – Quer tomar um banho?
B – Eu quero...
D - Eu queria que ele tivesse chegado... Não você!
(silêncio)
D - Vou buscar uma toalha...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Garoa ou Rascunho para Teatro XVIII






A - Te esperei a noite toda...
B - Por quê?
A - Achei que te veria lá...
B - E não viu?
A - Não...
B - É... Nem eu vi você...
(silêncio)
A - Que bom... Sem surpresas...
B - É... Sem surpresas...
(silêncio)
B - Chorou?
A - Chorei...
(silêncio)
A - E você?
B - Eu não...
(silêncio)
B - Não ter chorado é um problema?
(silêncio)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sem surpresas para a noite de amanhã ou Rascunho para Teatro XVII






Daqui - Você sabe que vai voltar, né?
De Lá - Onde você está?
Daqui - Em casa...
De Lá - Me ligou pra dizer isso?
Daqui - E quando voltar, estarei aqui...
De Lá - Eu não pretendo voltar...
(silêncio)
Daqui - Tô esperando você voltar...
(silêncio)
De Lá - Eu não vou voltar!
(silêncio)
Daqui - Começou a chover aqui...
De Lá - Aqui não!
(silêncio)
De Lá - Tá tarde, vou desligar...
Daqui - Tomara que amanhã faça sol...
(silêncio)
Daqui - Se não fizer, te ligo de novo...

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Para Penélope ou Rascunho para Teatro XVI






Ela - Pois não?!
(silêncio)
Eu - Tem flores de plástico?
Ela - Tem sim...
Eu - Posso dar uma olhada?
Ela - Não prefere dar uma olhada nas flores naturais?
Eu - Não... Quero as que são de plástico...
Ela - Mas, olhe como os girassóis estão com uma cor viva...
Eu - Eu quero as falsas! Quero flores de plástico...
(silêncio)
Ela - Certo, aqui no fundo da loja...
(silêncio)
Ela - Posso perguntar por que o senhor prefere as flores artificiais?
Eu - Quero dar de presente...
Ela - E por que tem que ser flores de plástico?
Eu - Porque as flores de plástico nunca morrem...
Ela - Mas, elas nem são de verdade... Aposto que seu presente ficaria mais bonito com flores naturais.
Eu - Mas eu não quero um presente bonito... Prefiro um presente que dure... Um presente que não morra...
(silêncio)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Só uma festa ou Rascunho para Teatro XV






B
- Posso te pedir uma coisa?
A - Pode...
B - Não vai levar a mal?
A - Não... O que é?
B - Será que amanhã, você poderia sair de casa enquanto eu almoço aqui com alguns amigos?
(silêncio)
A - Por quê?
B - Porque eu não quero que eles te vejam...
A - Por quê?
B - Porque sei que eles vão comentar de você...
A - Comentar o que?
B - E eu não quero isso...
A - O que eles vão comentar?
B - O jeito que você fala, as roupas que você usa, suas piadas sem-graça, o seu cheiro de cigarro, sua barba mal feita...
(silêncio)
A - Tá...
B - Obrigada!
(silêncio)
A - Se eu demorar a voltar, não se assuste...
B - Obrigada por me entender...
A - De nada...
(silêncio)


sábado, 29 de agosto de 2009

Consolação ou Rascunho pra Teatro XIV







D - Licença...

A - Sim?!

D - Sou eu...

A - Ah, oi...

D - Como você tá?

A - Beleza...

(silêncio)

D - E você? Tá bem?

A - Tô sim...

D - Hum... Que bom!

(silêncio)

D - Tô muito diferente?

A - Um pouco...

D - É, cortei o cabelo... Mudei os óculos...

A - É...

(silêncio)

A - Seu cabelo era mais bonito antes...

D - É? Você acha?

A - Ah, tranqüilo...

D - Poxa, dava muito trabalho aquele cabelo...

A - Imagino...

(silêncio)

D - Você não mudou nada...

(silêncio)

A - É? Devo ter mudado em alguma coisa...

D - É... Tem razão... Mudou uma coisa...

A - O que?

D - Nada...

A - Fala...

D - Nada... Esquece...

A - O que é? Engordei? É isso?

D - Não

A - Então o que?

D - Ficou chato!

(silêncio)

terça-feira, 30 de junho de 2009

Para Sísifo ou Rascunho pra Teatro XIII







1 - Como faz?
2 - Precisa de força...
1 - Onde é que eu apóio?
2 - Em si mesmo...
1 - Mas eu não tenho força suficiente...
2 - Tem que apoiar sozinho...
1 - Você não pode me dar uma mãozinha?
2 - Não!
1 - Uma ajuda só...
2 - Não!
1 - Eu, sozinho, não vou conseguir tirar isso do chão...
2 - É preguiça?
1 - Não...
2 - É preguiça!
1 - É falta de força!
2 - Então bota força!
(silêncio)
1 - Tá vendo que não mexe?
2 - Tá vendo o tanto que mexe?
1 - Não...
2 - Você não precisa de ajuda pra tirar isso do chão...
1 - Preciso... me ajuda...
2 - Bota força!
1 - Me ajuda?!
2 - Você tem que aprender a levantar sozinho..

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Para Godot ou Rascunho pra Teatro XII







O MOÇO - Você vem agora?

O VELHO - Não consegue me ver?

O MOÇO - Onde você está?

O VELHO - Olha com atenção!

O MOÇO - Você não veio, né?

O VELHO - Como não?

O MOÇO - Não te vejo...

O VELHO - Você está virado pro lado errado...

O MOÇO - Você vai demorar, né?! Podia ter avisado...

O VELHO - Presta atenção!

O MOÇO - Se você tivesse vindo, eu saberia...

O VELHO - Você só vê o que lhe convém...

O MOÇO - Quer saber? Tô indo...

O VELHO - Indo pra onde?

O MOÇO - Qualquer lugar...

O VELHO - Você não tem pra onde ir...

O MOÇO - Não importa...

O VELHO - Se acalma e abre os olhos... Estou te vendo e vejo você de olhos fechados...

(silêncio)

O MOÇO - É que eu tô te esperando tem um tempo...

O VELHO - Abre os olhos que você vai me ver...

(silêncio)

O MOÇO - Você ainda tá aí?

(silêncio)

terça-feira, 5 de maio de 2009

Para B.R.L. ou Rascunho pra Teatro XI







EU - Você me beijou.

ELE - Eu?

EU - Não se lembra?

ELE - Não lembro...

EU - Quando você estava frágil e sensível...

(silêncio)

EU - Você tirou a roupa e me beijou...

ELE - Nem percebi...

EU - Eu imaginei que você não se lembraria...

ELE - Mas pra que dizer isso agora?

EU - Porque foi o dia que te senti mais próximo de mim...

(silêncio)

ELE - Esquece isso!

EU - Não dá... tá gravado em mim...

ELE - Mas em mim, não!

EU - Pouco importa!

ELE - Não quero que você, nunca mais, toque nesse assunto!

EU - Não tocarei...

(silêncio)

EU - Mas fique sabendo que, se quiser, algum dia, me beijar de novo...

ELE - Esqueça!

EU - Eu sei que embaixo dessas roupas brancas, existe um menino que me beijou...

ELE - Vou embora!

EU - Vai... isso não muda nada!

ELE - Tchau!

EU - Um beijo!